Da Redação
Brasília – A crise dos fertilizantes no Brasil antecede à guerra na Ucrânia e o conflito provocado pela Rússia apenas fez agravar essa situação. No ano passado, apareceram sinais de que teríamos problemas mais adiante, quando os preços aumentaram brutalmente. A guerra só fez agravar uma situação que já era difícil e agora está pior do que se poderia imaginar.
A opinião é de José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) ao analisar a crise de abastecimento de fertilizantes que já é motivo de grande preocupação para o agronegócio brasileiro.
Um dos maiores exportadores de alimentos do planeta, o Brasil também se destaca entre os principais importadores de defensivos agrícolas. Com um consumo de 8,3% da produção global, o país fia atrás apenas da China (24%), da Índia (14,6%) e dos Estados Unidos (10,3%).
Juntos, os quatro países respondem por 57,6% do consumo mundial. Entre eles, o Brasil é o único com uma produção doméstica pouco relevante, o que deixa o país na posição delicada de líder na importação mundial de fertilizantes.
Com a invasão da Ucrânia pela Rússia, as severas sanções impostas pelos Estados Unidos, União Europeia e outros países ocidentais bloqueando, entre outros produtos, as exportações russas e também da Belarus de fertilizantes, tornou-se ainda mais difícil para o Brasil garantir o suprimento de um tipo de insumo vital para o agronegócio.
Segundo Jose Augusto de Castro, “não podemos nos esquecer de que no ano passado a crise dos fertilizantes já começara aparecer porque as nossas importações pelo menos dobraram. Algumas em quantidade, outras em preços. Portanto, o problema começou no ano passado, antes da guerra na Ucrânia. A guerra apenas agravou essa situação. No momento temos um problema que é a falta de matéria-prima para o agronegócio, que é o sustentáculo do comércio exterior brasileiro”.
A decisão anunciada pelo presidente Vladimir Putin de suspender, por tempo indeterminado, as exportações de fertilizantes só fez agravar a delicada situação enfrentada pelos produtores brasileiros. Até a eclosão do conflito, a Rússia respondia por 23% das exportações mundiais desses insumos para o Brasil, a China por 14%, Marrocos por 11% e o Canadá por 10%.
Encontrar um substituto para a Rússia não é tarefa fácil. Se, por exemplo, a China se dispusesse a assumir essa fatia do comércio, o país teria que aumentar a sua produção em quase 100% para dispor de um volume suficiente para suprir a demanda brasileira e isso, na opinião do presidente da AEB, é praticamente impossível e ainda mais no curto prazo.
A situação não é diferente em relação aos outros dois maiores exportadores para o Brasil, Marrocos e Canadá. Na opinião de José Augusto de Castro, “para atender às necessidades brasileiras, cada um desses países teria que aumentar a sua produção em 60%. O momento atual não é nada favorável para se alcançar um aumento tão expressivo da produção apenas para atender a um único país. Então, teremos grandes dificuldades hoje para fazer alguma coisa”.
Na realidade, desde o ano passado passou a haver um desequilíbrio entre a demanda brasileira e a oferta dos fornecedores e por isso os preços subiram bastante, aumentando a insegurança e a dependência brasileiras. Segundo José Augusto de Castro, “antes tínhamos uma dependência de mercados para exportar os nossos produtos e agora temos uma dependência para produzir os produtos do agronegócio que o Brasil sempre exportou e que esperamos que continue a exportar”.
Para se ter uma ideia da dimensão do problema que é a forte dependência brasileira do fornecimento pelos russos, vale lembrar que a Rússia é o segundo maior produtor mundial de potássio, com cerca de 20% da produção global. O país ocupa também a vice-liderança mundial entre os produtores de fertilizantes nitrogenados (participação de 10%) e o quarto maior produtor global de fertilizantes fosfatados (com uma fatia de 7% do mercado mundial). Além disso, os russos respondem por quase 13% do comércio global de produtos intermediários (amônia, rocha fosfática, enxofre, etc) e quase 16% dos insumos acabados..