Hsia Hua Sheng, vice-presidente do Banco da China no Brasil defendeu que essa harmonização de padrões ocorra em âmbito internacional, e não apenas bilateral. Segundo ele, o Brasil poderia, por exemplo, se unir à iniciativa de adoção de uma taxonomia comum entre a China e a União Europeia, que é outro grande parceiro do agronegócio brasileiro. “Uma taxonomia unindo China, União Europeia e Brasil seria o melhor cenário, porque dessa forma não será necessário trabalhar com padrões diferentes. Isso facilitaria muito a concessão de empréstimos, e mais investidores e bancos internacionais participariam desta iniciativa.”
Na opinião de Taciano Custódio, head de Sustentabilidade do Rabobank no Brasil, a produção agrícola brasileira já adota uma série de práticas sustentáveis que poderiam servir de base para a construção de critérios comuns entre os dois países. Entre elas, mencionou o plantio direto, o uso de biofertilizantes e o equilíbrio e redução de fertilizantes químicos. “É bom lembrar que 100% da soja plantada no Brasil já é de baixo carbono.”
Além do desenvolvimento de uma linguagem comum, a concessão de financiamento à agropecuária de baixo carbono passa pelos desafios do monitoramento e da certificação da produção, observou Luiz Augusto Guimarães, diretor de Controle de Crédito, Jurídico, Produtos e Compliance do banco BOCOM BBM. Para avaliar os pedidos de crédito e acompanhar a observância das condições, o BOCOM BBM usa os serviços de uma empresa de sensoriamento remoto que dá informações sobre a evolução do uso da propriedade nos últimos dez anos, ressaltou. As checagens são completadas por vistorias in loco e o uso de base de dados públicos que permitem verificar eventuais violações ambientais.
O apetite pelas redes verdes é crescente na China e há oportunidades infinitas para a cooperação em sustentabilidade entre Brasil e China, ressaltou Sean Kidney, CEO da Climate Bonds Initiative, entidade que mobiliza recursos para investimentos em projetos de redução de emissões e mitigação dos efeitos da mudança climática. “Existe na China um fetiche por sustentabilidade”, afirmou. Em sua opinião, o Brasil pode usar esse cenário para vender commodities de maior valor agregado, que propiciam retornos mais elevados.
A The Nature Conservancy atua na elaboração de códigos de conduta para produtores e instituições financeiras que estimulam a concessão de créditos a projetos de baixo carbono. “A pecuária brasileira é produzida abaixo do seu potencial e é possível mudar isso com técnicas desenvolvidas pela Embrapa, de intensificação sustentável da pecuária, onde com menos área é possível aumentar em três vezes a produtividade da pecuária do Brasil”, disse Anna Lucia Horta, diretora de Finanças e Investimentos Sustentáveis da entidade.
Apesar de o mandato do Novo Banco de Desenvolvimento ser focado no financiamento de infraestrutura, o “principal” da organização multilateral nas Américas, Mauricio Piccinato Xavier, observou que há um impacto indireto sobre a agricultura sustentável. “O NDB pode financiar rodovias e pode financiar portos. De nada adianta ter uma produção agrícola eficiente, mas na hora de escoar ficar com caminhão na fila do porto gastando diesel. Nosso papel é atuar de forma complementar a outros bancos que são especialistas no setor agro.”
O presidente do CEBC, embaixador Luiz Augusto de Castro Neves, observou que o evento do dia 3 era uma continuidade do 1º Diálogo Brasil-China sobre Agricultura Sustentável, realizado há pouco mais de um ano, cujas conclusões foram aproveitadas no documento “Sustentabilidade e Tecnologia como Bases para a Cooperação Brasil-China”, lançado pelo CEBC em outubro. Segundo ele, o texto forneceu subsídios à VI Reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (COSBAN), realizada em maio.
Os painéis do evento do dia 3 foram moderados pela diretora executiva do CEBC, Cláudia Trevisan, e a vice-presidente do IFS, Bai Yunwen.
(*) Com informações do CEBC