Brasil, o inquebrável

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Renan Diez (*)

Somos um país rico de povo pobre. País das desigualdades, do desiquilíbrio, das polarizações, das contradições e das multiculturas. Estamos entre as dez maiores economias do mundo, mas quando levamos em conta o poder de compra com base no PIB per capita, não figuramos nem entre os cinquenta primeiros. Somos o país com as maiores reservas de água doce do mundo, mas temos mais de 40 milhões de pessoas morando em residências sem água potável. Somos o maior produtor de proteína animal do planeta, mas 10% de nossas crianças sofrem com desnutrição em um terço dos municípios do semiárido nordestino. Nosso pobre país rico.

Somos um país naturalmente rico. Clima, costa e solo. Originalmente privilegiados. Talvez a nação com maior potencial estratégico do planeta. Aqui, temos um sub aproveitamento do tamanho do Brasil. No comércio exterior, por exemplo, há uma lacuna enorme para crescimento. Sobrevivemos com uma precária infraestrutura logística, mas que em meio a uma das maiores pandemias da história, registrou em junho, pelo quarto mês consecutivo, recorde mensal de movimentação no porto de Santos.

Neste país de contradições, continuamos dependendo de um mercado de commodities. Continuamos exportando soja, café, açúcar, carne. Ainda somos um país agrário. Depois de mais de 500 anos, o fantasma de um Brasil colônia ainda nos assombra. Continuamos exportando, majoritariamente, matéria-prima. Temos potencial para mais, muito mais. É insensível que a contradição de país rico e povo pobre se perpetue sem uma alternativa de mudança palpável. Mas há!

O cenário de transformação depende de uma união de fatores. A educação no Brasil é um deboche. Universidades públicas que atendem apenas um pequeno grupo de privilegiados e um ensino básico que não tem nem o básico do investimento necessário para mudança. Nossa tão sonhada reforma tributária ainda está para semana que vem. Por enquanto, nosso regime tributário é empecilho para o desenvolvimento de negócios no Brasil e continua sendo uma forma de transferência de renda dos mais pobres aos mais ricos. Nossa política é uma concentração de poderes que continua fazendo gol contra, em um jogo que nunca termina.

Nosso pobre país rico está ancorado em um mar de instabilidade política, burocracia tributária e sem o devido investimento no nosso principal gatilho para mudança, a educação. Sem essa união de condições, continuaremos exportando apenas o que a natureza nos dá. O futuro chegou, mas ainda estamos presos no passado, em um Brasil, até então, inquebrável.

(*) Renan Rossi Diez. Diretor na Intervip Comércio Exterior. Graduado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas; Pós-Graduado em Administração de Empresas e MBA em Gestão de Comércio Exterior e Negócios Internacionais pela IBE-FGV Campinas. Autor do livro Minuto Comex. Contato: renan@portalintervip.com.br

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