Da Redação
Brasília – A receptividade da vacina Coronavac, a questão da tecnologia 5G e a política externa a ser implementada pelo governo brasileiro serão fatores decisivos para o desenvolvimento das relações entre o Brasil e a China em 2021. Dependendo das posições assumidas pelo governo em relação a esses temas, as relações com o principal parceiro comercial do Brasil poderão se tornar ainda mais consistentes ou enfrentar uma fase de turbulências.
Segundo o CEO do LIDE China, José Ricardo dos Santos Luz Júnior, “considero ainda prematuro fazer uma análise em relação às perspectivas da relação Brasil-China tanto no aspecto comercial –exportação e importação- como no tocante aos investimentos, mas acredito que tudo dependerá da maneira como o governo brasileiro tratará esses três pilares acima mencionados”.
“Em primeiro lugar mencionaria a questão da receptividade da vacina Coronavac, que é fabricada pela Sinovac em parceria como Instituto Butantan. A vacina começou a ser administrada no domingo e vamos aguardar pela receptividade que o imunizante terá junto à população brasileira. Um segundo tema importante e que terá grandes impactos na relação sino-brasileira é a questão do 5G. Vamos aguardar para ver se além de empresas como a Erikson e a Nokia, a chinesa Huawei poderá participar fornecendo equipamentos para aquelas empresas de telecomunicações participantes do leilão previsto para o primeiro semestre deste ano. Além disso, temos que aguardar um terceiro ponto que é a relação diplomática Brasil-China. Ou seja, como o governo brasileiro se posicionará em relação ao nosso maior parceiro comercial. E, nessa seara, também como se dará a relação Estados Unidos-China a partir da posse do presidente Joe Biden, incluindo-se quais impactos que a relação Washington-Pequim trará ao Brasil em relação às exportações da soja, por exemplo, pois a China é uma das maiores compradoras da oleaginosa americana”.

Especialista nas relações sino-brasileira, José Ricardo dos Santos viveu na China durante cinco anos e além do pleno domínio do mandarim, acumulou sólidos conhecimentos sobre o comércio exterior e as relações exteriores do país asiático e com base na experiência adquirida ele traça um panorama bastante realista sobre o futuro das relações entre os dois países.
Segundo o CEO do LIDE China, “não acredito na possibilidade de ser realizada no primeiro semestre deste ano uma reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação, a COSBAN, por conta do clima pouco amistoso entre os dois países nos últimos tempos. Da mesma forma, não vislumbro a possibilidade de o Brasil tornar-se um signatário da Belt and Road Initiative (ou Iniciativa Cinturão e Rota), à qual até março de 2020 138 países já tinham aderido. Na última reunião da COSBAN, em junho de 2019, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou ver com bons olhos a política da BRI, mas considerou ser preciso debater mais seriamente essa possibilidade internamente pelo governo brasileiro”.
Além desses aspectos das relações bilaterais, José Ricardo dos Santos considera igualmente importante acompanhar de perto a questão do Plano Decenal de Cooperação Brasil-China (2022-2031). Segundo ele, a COSBAN é o foro natural em que assuntos dessa relevância são abordados e para ele “sem a realização da reunião da COSBAN, o Plano Decenal não será abordado e com isso também permanece uma incógnita o que acontecerá com o Brasil no momento em que o seu maior parceiro comercial assina a Parceria Econômica Regional Abrangente, tratado de livre comércio entre 15 países da região Ásia Pacífico, correspondendo a 30% do PIB Mundial e quase 1/3 da população do planeta. Em resumo, segue indefinido o futuro das relações entre os dois países e também sobre a possibilidade de continuidade das tratativas sobre uma possível aliança comercial sino-brasileira”.