Da Redação
Brasília – A balança comercial brasileira deverá fechar o ano de 2021 com um superávit de US$ 59 bilhões, resultado de US$ 275 bilhões em exportações e US$ 216 bilhões em importações, segundo estimativa da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). O número é inferior aos US$ 71 bilhões projetados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Fazenda e maior que o saldo de US$ 43 bilhões anunciado pelo Banco Central (BC).
Na segunda-feira (1º.) a Secex divulgou os dados da balança comercial do mês de setembro. No acumulado dos nove primeiros meses do ano, as exportações somaram US$ 213,223 (alta de 36,9%), as importações totalizaram US$ 156,790 bilhões (aumento de 36,4%) e o superávit atingiu a cifra de US$ 56,433 bilhões (alta de 38,3%). A corrente de comércio (exportação+importação) totalizou US$ 370,013 bilhões.
Vistos isoladamente, esses os dados divulgados pela Secex são considerados “excelentes” pelo presidente da AEB, José Augusto de Castro. Entretanto, ele recomenda que é preciso analisar o contexto em que esses números se inserem, porque o cenário mundial está em constante mudança e o Brasil será afetado por essas alterações.
Ao analisar os dados da Secex, o presidente da AEB afirma que “teoricamente, temos um número otimista relativo às exportações (US$ 281 bilhões em 2021), um dado pessimista a respeito das importações (US$ 210 bilhões) e uma estimativa otimista para o cenário de hoje em relação ao superávit comercial (US$ 71 bilhões). Na segunda-feira, o Banco Central projetou exportações de US$ 282 bilhões, importações de US$ 239 bilhões e um superávit de US$ 43 bilhões”.
A mudança nos números pode acontecer, segundo José Augusto de Castro porque “vivemos um momento de evolução das exportações de commodities, especialmente de minério de ferro, e isso pode causar um impacto na balança comercial brasileira diferente do que se imagina hoje”.
Até o mês de setembro, o Brasil embarcou 77 milhões de toneladas de soja e restam apenas 8 milhões para serem embarcadas, representando uma receita de US$ 4 bilhões. Também estão na reta final as exportações de minério de ferro e petróleo, que juntamente com a soja, são os três principais itens da pauta exportadora brasileira. E é importante destacar que o minério de ferro enfrenta forte queda nas cotações no mercado externo, enquanto o petróleo segue mantendo o elevado patamar de preço de exportação. Esses são fatores que afetarão os números finais da balança comercial brasileira em 2021.
No tocante às exportações, em setembro, um dado chamou a atenção: pela primeira vez na história as exportações de carne bovina superaram a barreira mensal de US$ 1 bilhão, com uma receita de US$ 1,082 bilhão, recorde registrado justamente quando os exportadores brasileiros enfrentam a crise gerada pela incidência de dois casos atípicos da chamada “vaca louca” no país. O aumento na receita deveu-se à forte alta no preço da carne, que passou de US$ 4 mil a tonelada em setembro de 2020 para US$ 5,8 mil no mesmo mês deste ano.
Na avaliação de José Augusto de Castro, os números acima significam que por enquanto a crise da “vaca louca” não trouxe nenhum efeito negativo para as vendas externas brasileiras, embora se saiba que as exportações para a China, principal mercado para a carne bovina brasileira, estão suspensas”.
A cifra recorde leva o presidente da AEB a deduzir que o alto volume de carne embarcada até o mês de setembro aconteceu antes de vir à tona o problema da “vaca louca” e que o produto encontra-se em trânsito.
Segundo ele, “agora a dúvida que se tem é a seguinte: os navios que chegarão à China serão desembaraçados ou vão ser retornados ao Brasil com a carga de volta? Essa é uma dúvida que vai perdurar nos próximos meses “.
Em relação às importações, até o momento está se sustentando um crescimento acima de 30% desde o início do ano. E em setembro, pela primeira vez em 2021, a média diária das importações ultrapassou US$ 900 milhões e alcançou a cifra recorde de US$ 950 milhões.
E em 2022 as compras externas devem seguir nesse patamar elevado porque, segundo o presidente da AEB, “grande parte desse volume de importação é de produtos que o Brasil fabricava antes mas agora, em função da falta de componentes, passou a importar. A falta desses componentes fez com que muitas empresas tivessem que firmar contratos de importação de médio ou longo prazos e vão continuar obrigadas a seguir importando em 2022 e eventualmente em 2023”.
Ele acrescentou um detalhe: “essa importação está vindo de países que têm disponibilidade de navios e de contêineres, porque não adianta comprar um produto de um país que enfrenta problemas com a falta de contêineres e dificuldades de navios. Essa é a realidade brasileira”.
Nesse contexto, a AEB estima em US$ 59 bilhões o superávit da balança comercial brasileira em 2021 e para chegar a esses números a Associação projetou algumas mudanças que devem começar a ocorrer já neste mês de outubro. Exemplos: em agosto, o minério de ferro foi embarcado a um preço de US$ 163 por toneladas, valor que caiu para US$ 120 a toneladas em setembro. E a tendência é de que os preços caiam ainda mais em outubro e nos próximos meses, devido principalmente à crise que atinge a economia chinesa envolvendo o gigantesco grupo imobiliário Evergrande.
Apesar da forte queda que acontece em relação à receita e ao quantum das exportações dessa commodity, este ano o minério de ferro ultrapassará a soja como principal produto de exportação do Brasil.
Esse panorama pontuado por incertezas que marcam o último trimestre de 2021 deverá se projetar para 2022 e já é possível projetar quedas tanto para as exportações quanto em relação às importações, resultando em um superávit comercial ainda impossível de se estimar, mas certamente bem menor que aquele a ser alcançado neste ano.
“Todos os sinais de hoje mostram que as exportações devem ter uma queda por conta da retração das cotações dessas commodities. Além disso para 2022 se projeta um cenário com menor crescimento mundial, inflação e taxa de juro mais elevadas, desemprego em alta ou pelo menos tendendo a não cair. Ou seja, um cenário externo nada favorável. Para completar, vamos levar para 2022 os problemas que temos hoje, tais como a falta de navios, alto custo do frete, indisponibilidade de contêineres”, afirmou o executivo.
Não bastassem esses ingredientes negativos, o presidente da AEB lembrou que “ainda seguiremos tendo principalmente esse descompasso entre oferta e demanda, que faz com que ora se tenha produto mas não tenha navio, ora se tenha navio mas não tenha produto. Por tudo isso, o cenário para 2022 não é dos melhores no atual momento”, concluiu.