Devaneios de uma pandemia

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Sob a ótica do comércio exterior brasileiro

Renan Diez (*)

Queria poder falar apenas sobre a balança comercial. Queria falar somente sobre nossas importações e exportações. Discutir acordos comerciais. Incentivar o uso das novas tecnologias como apoio ao comércio exterior. Queria poder fomentar os benefícios do Drawback, do Ex-Tarifário, do entreposto aduaneiro. Queria poder promover o comércio exterior brasileiro em um cenário de estabilidade da nossa moeda. Queria dar só boas notícias. Queria um comércio exterior brasileiro mais forte. Neste momento de pandemia mundial queria um país mais alinhado, com um plano gerencial mais claro, objetivo e unificado, com mais ações e menos instabilidade política.

Queria um período sem crises, ou pelo menos uma crise por vez. Talvez um sonhado silêncio sobre corrupção, mas não uma mordaça. Queria um debate sobre ideias e não sobre líderes. Na era da informação em tempos de tecnologia e globalização, queria mais ciência, mais fontes e menos fake news.

Em um mundo de pandemia queria mais empatia, solidariedade e um mundo mais justo. Queria segurança jurídica, reforma tributária e administrativa. A iniciativa privada sangra em uma crise sem precedentes. A corda sempre estoura do lado mais fraco.

Eu queria um mundo com pessoas ponderadas e equilibradas, em que bando de loucos e fanáticos existissem apenas no futebol, aliás, que saudades do futebol. Queria mais propostas e menos palanque. Mais liderança e menos ego. Mais ordem e menos caos. As demandas de um país continental gritam em meio a um filme de Charles Chaplin. A comunicação é limitada por aqui, desalinhada.

A CNI (Confederação Nacional da Indústria) apresentou 30 propostas para o setor privado superar a crise. Eu queria falar sobre isso, queria falar sobre comércio exterior, mas por enquanto ainda me causa repulsa ver nosso Real desvalorizar 44% frente ao Dólar em 2020, enquanto nossos hermanos argentinos tiveram desvalorização de apenas 13%, o peso chileno apenas 11% e o peso uruguaio 16%. Me causa repulsa ver terminais no maior porto do Brasil, no meio de uma crise histórica, duplicarem, triplicarem valores de armazenagem e ainda diminuírem o período de cobranças.

Este artigo é uma utopia e um desabafo. Uma súplica e um lamento. Uma fantasia e um engano ao mesmo tempo. O Brasil que eu quero ainda não está nos livros, mas podemos escrevê-lo juntos. Me desculpem por não falar de comex.

(*) Renan Rossi Diez. Diretor na Intervip Comércio Exterior. Graduado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas; Pós-Graduado em Administração de Empresas e MBA em Gestão de Comércio Exterior e Negócios Internacionais pela IBE-FGV Campinas. Autor do livro Minuto Comex. Contato: renan@portalintervip.com.br

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