Economia em Xeque

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Márcio Coimbra (*) 

Na medida que cresce a popularidade de Bolsonaro, crescem também os gastos públicos da rede de proteção social iniciada durante a pandemia de coronavírus. O auxílio-emergencial foi essencial para que os números presidenciais galgassem pontos importantes nas pesquisas de opinião. A reversão desta popularidade, entretanto, será uma realidade na medida que os efeitos da pandemia se impuserem na economia.

O plano era rebatizar o Bolsa-Família de Renda Brasil e turbiná-lo com recursos, carimbando o principal programa assistencial brasileiro com uma marca que remete ao governo atual. O mesmo plano que já foi iniciado com o “Minha Casa, Minha Vida”, que passou a se chamar “Casa Verde-Amarela” e o PAC, programa de aceleração do crescimento, repaginado como “Pró-Brasil”.

No caso do Renda Brasil, o problema é mais profundo. Falta ao governo, até o momento, encontrar mecanismos para financiá-lo. O auxílio emergencial durante a pandemia, que distribui 600 reais mensais, se tornou um programa de R$ 51 bilhões de reais/mês para algo como 60 milhões de pessoas. Para efeito de comparação, o Bolsa-Família custa R$ 3 bilhões/mês para pagamentos a 14 milhões de famílias.

Se o auxílio-emergencial se transformasse no Renda Brasil, custaria R$ 612 bilhões por ano. Se cortado pela metade, ou seja, se fosse de R$ 300 mensais, ainda assim custaria R$ 306 bilhões/ano, praticamente 10 vezes o Bolsa-Família/ano e o mesmo valor do total de gastos de custeio e investimentos do orçamento federal. Um projeto inviável.

O governo tentou meios de custear este auxílio com outras fontes, o que causou a ira do Presidente Bolsonaro com a equipe econômica, sepultando inclusive o nome do programa. O Renda Brasil, desta forma, morreu sem jamais ter nascido, mas o problema de uma popularidade turbinada por um auxílio que tem data para acabar preocupa o Planalto.

O impacto da diminuição do valor do auxílio pode erodir a popularidade do Presidente em pouco tempo, especialmente porque não existe um plano claro de transformação do mecanismo em programa de transferência de renda, tampouco recursos para operar este movimento. A situação é grave.

Hoje o número de beneficiários do auxílio-emergencial é maior que o de trabalhadores com carteira assinada em 25 Estados brasileiros. Para cada trabalhador com carteira assinada, há quase dois recebendo o benefício. As pessoas recebendo o auxílio já correspondem a 68% dos 96,1 milhões da força de trabalho. No Maranhão, por exemplo, há 5 pessoas recebendo o benefício para cada empregado com carteira. Isto explica que o tombo na economia pode não ser tão grande este ano, mas escancara o fato de que (sem auxílio) o pior está por vir.

É preciso entender que a recuperação brasileira será muito mais lenta e dolorosa do que se imagina. Nossa economia, que nunca foi robusta, sofreu um enorme abalo com a pandemia e diante do corte do auxílio emergencial, irá encarar a realidade somente no ano que vem. Sem recursos ou reformas, com economia desarrumada e refém de um déficit recorde, o Brasil tem muito que se preocupar, assim como Bolsonaro. Diante desse cenário, não há narrativa que sustente sua popularidade e garanta sua reeleição.

(*) Márcio Coimbra é coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, Cientista Político, Mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007). Ex-Diretor da Apex-Brasil. Diretor-Executivo do Interlegis no Senado Federal.

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