Guerra comercial EUA-China afetará balança comercial brasileira, diz presidente da AEB

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Da Redação

Brasília – A escalada  comercial entre os Estados Unidos e a China  afetará fortemente o crescimento do comércio mundial e terá grandes reflexos na balança comercial brasileira. Com o agravamento do contencioso entre as duas maiores potências comerciais do planeta, a expectativa de crescimento de 4% para as trocas comerciais entre os países cairá consideravelmente e poderá ser reduzida a zero.

Do lado brasileiro, as exportações serão atingidas pela contração dos preços internacionais de commodities como a soja e os minérios de ferro, e as importações tendem a sofrer baixa com a queda nas previsões do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro para 2018.

Segundo o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, “uma guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo terá efeitos em todos os países. O Brasil perde porque guerra comercial é protecionismo, que reduz comércio, reduz demanda e paises emergentes como o Brasil ficam mais enfraquecidos. Uma das consequências natural dessa guerra comercial é a queda nos preços das commodities e o Brasil não tem como se defender disso”.

Na opinião do presidente da AEB, “a verdade é que ninguém sabe o que vai acontecer. Sabemos que haverá uma queda importante no preço internacional das commodities mas não sabemos quanto. A verdade é que não haverá ganhadores com essa guerra comercial. Pelo contrário. Todos perderemos com ela”.

José Augusto de Castro ressalta que “até recentemente havia uma estimativa de que o comércio mundial cresceria 4% este ano mas, com o início e recrudescimento do contencioso entre os Estados Unidos e a China essa previsão veio decrescendo e não será nenhuma surpresa se o intercâmbio entre os países registrar uma taxa zero ao final de 2018”.

Essa forte contração no comércio mundial é facilmente explicável. A China é o maior exportador e o maior importador do planeta. Os Estados Unidos são o maior importador mundial. Ao lado deles, a União Europeia, em seu conjunto de 28 países-membros compõe o trio dos grandes players do comércio internacional. Juntos, os três respondem por 80% de todo o comércio mundial. Nesse contexto, os demais países são coadjuvantes e ficam com apenas 20% das trocas comerciais internacionais.

Além das consequências dessa luta entre gigantes, o Brasil também será afetado por outros fatores externos (ligados ao comércio com os países da América Latina e da África, entre outros) e pela contração de sua própria economia.

Para o presidente da AEB, “teremos queda nas exportações para a Argentina, devido à crise que o país atravessa e também por causa da queda nos preços internacionais de produtos básicos, como a soja e o trigo, principais itens na pauta exportadora do país vizinho, terceiro principal destino das exportações brasileiras. A Argentina é um dos principais destinos para as vendas externas brasileiras de produtos manufaturados e o Mercosul absorve 25% desses embarques e o conjunto dos países da América do Sul é o destino final de 40% de toda a manufatura embarcada pelo Brasil para o exterior. Todos esses países dependem da exportação de produtos básicos e com a queda dos preços internacionais, somada à depressão do comércio mundial, essas nações devem reduzir a importação de produtos industrializados brasileiros”.

Além de um cenário externo marcado por nuvens negras e turbulências, o comércio exterior brasileiro deverá ser prejudicado pela queda nas previsões do PIB. Depois de chegar a ter uma projeção de crescimento da ordem de 3% a 3,5%, a expectativa é de que toda a riqueza produzida este ano no país não deverá crescer mais que 1,7% ou até menos neste ano. Segundo José Augusto de Castro, “essa queda no PIB certamente vai afetar nossas exportações. Existem muitas variáveis e o conjunto delas terá reflexos na balança comercial”.

É por esse motivo que dia 19 ou 20 de julho a AEB deverá anunciar a revisão dos números da balança comercial brasileira para 2018. Conforme sublinha José Augusto de Castro, “este ano a revisão será uma tarefa bastante difícil. Tivemos a greve dos caminhoneiros, com seus fortes impactos na economia e no comércio exterior brasileiros, e também a guerra comercial entre americanos e chineses. Esses dois fatores afetarão fortemente os números da balança comercial brasileira”.

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