Guerra na Ucrânia faz explodir importações de fertilizantes da Rússia e provoca deficit recorde no intercâmbio bilateral

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Da Redação

Brasília – A Guerra na Ucrânia ampliou o expressivo deficit comercial do Brasil no intercâmbio com a Rússia e em apenas nove meses deste ano o saldo negativo brasileiro já superou os US$ 4,112 bilhões registrados em todo o ano de 2021. Para este ano, o superávit russo, que totalizou em setembro US$ 4,864 bilhões, poderá alcançar a cifra recorde de US$ 6 bilhões.

De janeiro a setembro, as exportações brasileiras para a Rússia cresceram 23,4%, comparativamente com igual período de 2021, e somaram US$ 1,391 bilhão, correspondente a 0,6% das exportações totais do País. Nesse mesmo período, as exportações russas deram um salto de 63,3% para US$ 6,237 bilhões, equivalentes a 3,03% de todo o volume importado pelas empresas brasileiras.

Em 2021, o Brasil exportou US$ 1,587 bilhão para a Rússia (alta de 4,2% sobre 2020) e importou um total de US$ 5,699 bilhões, um crescimento robusto de 107% sobre o ano anterior. A corrente do comércio bilateral (exportação+importação) atingiu a cifra de US$ 7,286 bilhões (alta de 70,6% sobre 2020) e gerou um deficit brasileiro de US$ 4,112 bilhões

Com esses números, o saldo negativo no intercâmbio com os russos só é menor que aqueles registrados nas trocas comerciais com os Estados Unidos e com a Índia. Os dados são da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia.

Mas a balança comercial brasileiro-russa tradicionalmente pendeu em favor do Brasil. De acordo com a série histórica iniciada em 1997, o déficit mais antigo brasileiro foi registrado no ano 2000, da ordem de US$ 824 milhões. A partir dali o Brasil acumulou uma série de superávits, o maior deles, no valor de US$ 2,493 bilhões, no ano de 2006.

Além de pouco expressivas, as vendas para o mercado russo têm como destaque uma forte concentração em produtos básicos, de menor valor agregado. De janeiro a setembro deste ano, a soja em grãos, por exemplo, respondeu por 42% das vendas, gerando uma receita de US$ 579 milhões. Açúcares e melaços, o segundo destaque nas exportações, somaram US$ 242 milhões (participação de 17% nos embarques).

Na sequência, compondo o Top 5 dos principais produtos exportados para a Rússia, aparecem a carne bovina (US$ 98 milhões e 7%), café não torrado (US$ 98 milhões e 7%) e amendoim (US$ 67 milhões, correspondentes a 4,9% das importações totais).

Do lado russo, os adubos ou fertilizantes lideraram a pauta exportadora para o Brasil, com uma participação de 77% no total embarcado e receita de US$ 4,8 bilhões, seguidos pelos óleos combustíveis (US$ 597 milhões e 9,6% de participação); carvão (US$ 534 milhões e 8,6%), demais produtos da indústria de transformação (US$ 247 milhões e uma fatia de 4,0% no total importado da Rússia pelo Brasil); e enxofre (US$ 44 milhões e 0,70% de participação).

“Perfil País”

De acordo com o “Perfil País” Rússia, elaborado pela Agência Brasileira de Promoção das Exportações e Investimentos (ApexBrasil), desde 2014, as vendas brasileiras para a Rússia apresentam tendência de retração, causada em parte pelo crescimento da produção local de alimentos e bebidas. Em contrapartida, a partir do ano passado, e mais acentuadamente deste ano, com a invasão da Ucrânia pela Rússia, as exportações russas deram um salto significativo, alavancadas pelos embarques de adubos ou fertilizantes e enxofre, além de óleos combustíveis e carvão.

De acordo com o estudo da ApexBrasil, em 2021, as exportações brasileras à Rússia se mantiveram no mesmo patamar em que se encontram desde 2018, sendo pouco afetadas pelo crescimento nos preços das commodities (como soja, açucares e café, entre outras). Em 2020, o Brasil ocupou a 24ª. posição entre os maiores fornecedores da Rússia (com uma participação de apenas 0,9% no mercado russo), enquanto a Rússia foi o 12º. maior fornecedor ao Brasil, com participação de 1,7% no mercado brasileiro.

O Brasil compete no mercado russo com os grandes players do comércio mundial. Os maiores fornecedores do país segundo dados da 2020 inseridos no “Perfil País” foram os China (23,7%), seguidos pelos 12 países com Acordo com a Rússia (basicamente, os países da União Econômica Euroasiática, composta pela Rússia, Arênmia, Bielorrússia, Cazaquistão e Quirguistão, além de Vietnã, Irã e Sérvia, com 11,5%), Alemanha (10,1%), Estados Unidos (5,7%) e Itália (4,4%).

Oportunidades comerciais

O forte e crescente desequilíbrio no intercâmbio bilateral é visto com preocupação pelo governo brasileiro que já emitiu sucessivos sinais à Rússia evidenciando o interesse em ampliar o volume das exportações e diversificar a pauta exportadora para aquele país. E de acordo com o “Perfil País”, foram identificadas 362 oportunidades comerciais com exportações no potencial de aproximadamente US$ 27 bilhões (ano-base dos dados: 2019), envolvendo cinco setores específicos.

São eles: Máquinas e Equipamentos, Aparelhos e Materiais Elétricos: com importações no valor de US$ 6,0 bilhões, envolvendo 47 produtos. A participação brasileira é de apenas 1,6%.

Alimentos e Bebidas:  a participação brasileira nesse segmento é de 14,5% de um total de US$ 4,7 bilhões importados, envolvendo a possibilidade de negócios em uma rede  de 73 produtos.

Produtos Químicos:  foram identificadas 50 oportunidades em um mercado de US$ 3,1 bilhões, setor no qual a participação brasileira no mercado russo é de 7,9%.

Equipamentos de Transporte: as oportunidades identificadas envolvem 15 produtos, num mercado importador de US$ 2,8 bilhões, no qual a participação brasileira é de 3,2%.

Outros: o estudo da ApexBrasil registrou 177 oportunidades comerciais com US$ 10,3 bilhões em importação total. O Brasil participa com 9,5% desse nicho de mercado.

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