Mundo real x mundo virtual: visões distintas sobre o aumento da quota de exportação de açúcar para os EUA

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Da Redação

Brasília – Entre ontem (21) e hoje (22), a  União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Única) e o Itamaraty divulgaram notas oficiais  sobre a decisão dos Estados Unidos de aumentar a quota destinada ao Brasil nas importações americanas de açúcar no ano fiscal 2019-2020.

Proveniente do mundo real, a nota da Única destacou, entre outros aspectos, que a medida tem sido uma prática usual e não representa “qualquer avanço estrutural para um maior acesso do açúcar brasileiro ao mercado americano”.

No mundo terraplanista marcado por um alinhamento incondicional aos Estados Unidos, o Itamaraty apregoa que “a iniciativa demonstra o valor da parceria econômica criada entre o Brasil e os EUA pelos Presidentes Bolsonaro e Trump e se inscreve no âmbito da Declaração Conjunta sobre o Comércio de Etanol entre o Brasil e os Estados Unidos deste mês”.

Foto divulgação Internet

Segundo o comunicado do Itamaraty, “o Governo dos Estados Unidos aprovou, no dia 10 de setembro, um novo aumento do volume de sua quota de importação de açúcar, consolidada na OMC, em 90,7 mil toneladas para o ano fiscal 2019-2020. Em 21 de setembro, o Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR) informou ao Ministério das Relações Exteriores que, na distribuição desse volume adicional entre os países contemplados, o Brasil contará com 80 mil toneladas, o que corresponde a 88,2%”.

A nota da chancelaria destaca ainda que “com o anúncio, a parte da quota dos EUA destinada ao Brasil sobe dos atuais 230 mil toneladas para 310,8 mil toneladas. Cabe lembrar que o volume atribuído ao Brasil na quota era de 152,6 mil toneladas no início do referido ano fiscal e já havia sido ampliado em fevereiro e abril. Desde então a participação do Brasil no total da quota de açúcar dos EUA elevou-se de 13,7% para 20,3%”.

Ainda de acordo com a posição oficial do Itamaraty, “a iniciativa demonstra o valor da parceria econômica criada entre o Brasil e os EUA pelos Presidentes Bolsonaro e Trump e se inscreve no âmbito da Declaração Conjunta sobre o Comércio de Etanol entre o Brasil e os Estados Unidos deste mês. Com as negociações previstas na Declaração Conjunta até 13 de dezembro, o Brasil continuará a trabalhar com os EUA por soluções em favor do comércio bilateral em açúcar, etanol e milho, propiciando maior geração de renda e de empregos nos dois países”.

Divulgação Internet

Na avaliação da Única, a cota adicional de 80 mil toneladas manterá a isenção no comércio do produto no mesmo patamar, considerado por fontes do setor como mínimo e insuficiente para compensar os benefícios concedidos às exportações do etanol americano pelo governo brasileiro.

A Única sublinha ainda que a concessão de uma cota adicional para exportação de açúcar sem impostos, no entanto, vem sendo feita todos os anos pelos Estados Unidos e alcança também outros exportadores, como a Austrália. O Brasil tem uma cota fixa de 152,6 mil toneladas já isenta de impostos nas exportações para o mercado americano.

Com a decisão anunciada agora, o que o governo dos Estados Unidos fez foi transferir para o Brasil parte da cota destinada a outros países que não conseguiram exportar o açúcar no volume estabelecido e com a redistribuição o Brasil foi um dos países beneficiados. Na safra 2019/2020, o volume total já foi aumentado em cerca de 80 mil toneladas. Esse adicional chegou a mais de 100 mil toneladas na safra 2010/2011.

Na avaliação da Única, a nova cota também não compensará os produtores de cana-de-açúcar pela isenção que o Brasil concede na importação de etanol dos Estados Unidos (no total de 750 milhões de litros), que foi prorrogada até o fim deste ano.

Empresários do setor sucroalcooleiro destacam que seria necessária uma cota de 1,1 milhão de toneladas para que o açúcar brasileiro tenha a mesma isenção que os EUA têm ao vender etanol  para os brasileiros, o que está longe do valor estabelecido hoje.

As 80 mil toneladas de açúcar dessa nova quota atribuída ao Brasil pelos Estados Unidos são uma gota no vasto oceano que são as exportações brasileiras de açúcar, quarto produto no ranking das exportações brasileiras. A nova quota representa menos de 0,5% do total embarcado pelas empresas brasileiras do setor entre os meses de janeiro e agosto.

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