Eleições 2022
Disse Tancredo Neves, político brasileiro que viveu grande parte da sua vida pública fazendo oposição, entretanto com esse pensamento se tornou um grande negociador e conciliador.
Para entendermos o que estamos vivendo atualmente na política, precisamos sair um pouco do lugar comum e do campo político, mas continuarmos na área de humanas para recorrermos ao grande conhecedor da psique humana, Sigmund Freud.
O pai da psicanálise uma vez afirmou que: “o eu não é senhor em sua própria casa”, ele se referia ao Ego. De acordo com a teoria freudiana, o conceito de Ego seria o “eu”, aquele busca a autossatisfação, doa a quem doer. Precisamos o tempo todo nos satisfazer, através de nossas opiniões e ações.
Esse conceito possui características extremamentes familiares, pois tem um elo muito interessante com a política. Dessa forma, vamos voltar para o embate polarizado que estamos assistindo para aplicarmos a teoria de Freud.
Não estamos defendendo o candidato A ou B, a partir de suas ideias e propostas. Estamos sim, defendendo o nosso Ego. É o “meu” candidato! O que deveria ser: a proposta desse candidato é a melhor para o crescimento do meu país. Não estamos pensando no coletivo. Esquecemos de defender propostas para defendermos pessoas. O que também vai de encontro com o pensamento de Tancredo Neves. Um ponto importante nessa eleição presidencial, que corrobora com esse contexto, é a falta de espaço para uma terceira via, terceira opção. Todos querem e buscam a mudança, mas o Ego fala mais alto e escolhe o embate. Vivemos a polarização, e pior, gostamos dela pois resguarda o nosso Ego.
Por muito tempo não tínhamos voz, lutamos pela redemocratização no Brasil e conseguimos conquistar o nosso espaço como cidadão. Na década de 90, com o advento da globalização, o crescimento global da tecnologia e o surgimento das redes sociais ganhamos voz, ganhamos no campo democrático, mas estamos perdendo por não sabermos usar a nossa inteligência emocional nas questões práticas no âmbito político e social. Não estamos usando a razão, estamos perdendo para a emoção e para o Ego.
A partir desse cenário retrógrado, de extremos e com ausência de diplomacia, não há espaço para o diálogo, para a negociação e para o consenso. O debate fica empobrecido, não há vontade de se colocar no lugar do outro e principalmente, não há escuta. Mesmo que seja para discordar em alguns pontos. Afinal, vivemos em uma democracia. Contudo, o importante é verificar os pontos de convergência para que o debate flua e para não contrariarmos Tancredo, brigando com os homens e não discutindo as ideias.
(*) Michelle Fernandes – Especialista em Comércio Exterior- Conselheira de Política e Comércio Exterior da ACRJ – Mediadora de Conflitos na CAAEB