Da Redação
Brasília – No ano 2000, os produtos manufaturados tiveram uma participação de 59,07% nas exportações totais brasileiras, estabelecendo o recorde da série histórica que perdura até hoje. Ano passado, essa participação caiu para 27,35%, superior apenas ao percentual de 15,19% registrado em 1970. E essa realidade registrada em 2021 não é uma redução circunstancial da contribuição dos produtos de maior valor agregado às vendas externas brasileiras.
A queda vem acontecendo nos últimos seis anos, desde 2016, quando apurou-se um percentual de 39,91% e assim sucessivamente nos cinco anos posteriores, até se chegar à segunda pior marca da série, no ano passado, quando a indústria de transformação viu sua participação nas exportações totais do país cair para 27,35% e o setor amargou um déficit de US$ 111,778 bilhões, o pior desde o ano 2000, segundo levantamento da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
Os dados constam da Radiografia do Comércio Exterior do Brasil, compilados pela (AEB), a partir de levantamento da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex). De acordo com o documento, em 1970, as exportações brasileiras somaram US$ 2,738 bilhões e 74,84% desse total eram de produtos básicos e apenas 15,19% de bens manufaturados.
A partir dali, com a criação, pelo governo, de incentivos como crédito-prêmio, incremento às exportações, Befiex, Ciex, trading companies e apoio à participação em feiras no exterior, entre outras medidas, as exportações de manufaturados tiveram forte reação e no ano 2000 atingiram o recorde histórico de participação de 59,07% na pauta de exportação.
Apesar dos resultados positivos, a partir daquele ano, a participação dos manufaturados na pauta de exportação vem sendo reduzida continuamente, e atingiu em 2021 o índice de 27,38%, o menor desde o ano de1975.
Segundo o presidente da AEB, José Augusto de Castro, “esse cenário sinaliza como se o Brasil tivesse voltado quase 50 anos no tempo e depois ficasse congelado, hibernando. A análise dos dados nos permite afirmar que, ao cair de uma participação dos produtos manufaturados de 59,07% no ano 2000 para 27,35% no ano 2021, foi gerada uma perda de participação de 31,71 pontos percentuais, ou uma expressiva perda de participação de 53,7% nas exportações brasileiras”.
“O responsável por esta situação é conhecido de todos e se chama Custo-Brasil”, afirmou o dirigente da AEB, reforçando que “o aumento da participação dos produtos manufaturados nas vendas externas do País passa, necessariamente, pela diminuição da burocracia que ainda impera no comércio exterior brasileiro. É necessário aprovar e implementar reformas estruturais, como as reformas tributária, administrativa e do imposto de renda, promover as privatizações, investir em infraestrutura, reduzir os custos de logística e ter previsibilidade, entre muitos outros temas que elevam os custos e dificultam as exportações”.
Segundo o presidente da AEB, o Brasil está diante de uma escolha relevante: “compete ao País escolher entre continuar exportando commodities sem valor agregado, mas com elevada tecnologia, ou exportar produtos manufaturados com valor agregado e gerar mais empregos qualificados no País”.
Para reforçar o raciocínio, ele lembrou que estima-se que para cada bilhão de dólares de produtos manufaturados exportados, são gerados cerca de 35 mil empregos diretos e indiretos no Brasil: “em outras palavras, se o Brasil implementasse uma política comercial de estímulo às exportações de bens manufaturados, cada dólar gerado contribuiria para reduzir o déficit comercial do setor e ainda possibilitaria a geração de milhões de empregos qualificados”.
José Augusto de Castro menciona o caso da Argentina, historicamente o principal destino das exportações de produtos manufaturados brasileiros: “o Brasil há muito deixou de oferecer estímulos a essas exportações, concentrando suas atenções nas vendas de commodities. A queda nas vendas do setor automotivo para o mercado argentino espelha com propriedade essa perda de espaços por parte de um dos mais importantes segmentos da indústria brasileira”.
Com tudo isso, o déficit registrado na balança da indústria de transformação só tem se agravado. E enquanto no ano passado a balança comercial como um todo fechou com um superávit de US$ 61 bilhões, o déficit da indústria de transformação no ano passado alcançou a cifra de US$ 111bilhões, o pior saldo negativo desde o ano 2000, de acordo com a AEB. E o déficit se aprofundou apesar da alta de 26,3% nas exportações do setor em relação ao ano de 2020. Esse crescimento nas vendas externas teve sua importância reduzida pela alta de 35,1% nas importações no ano passado, comparativamente com 2020.