Da Redação (*)
Brasília – Os Estados Unidos são os principais importadores de calçados, em dólares, do mundo, e nesse mercado respondemos apenas por 0,9% do total de importações de calçados. Há um potencial enorme a ser explorado. Esta é uma das principais conclusões do primeiro Planejamento Estratégico do setor calçadista para os próximos 15 anos, que foi apresentado nesta sexta-feira (30) pela Novociclo Empresarial na sede do TechPark da Feevale, em Campo Bom/RS.
O documento da empresa de consultoria, contratada por meio de edital do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) em janeiro, contou com apoio das entidades setoriais de calçados (Abicalçados), de componentes (Assintecal), de couros (CICB) e de máquinas (Abrameq), que levantaram propostas e também engajaram parte dos seus associados no desenvolvimento do Planejamento.
O estudo lista uma série de oportunidades para o desenvolvimento da cadeia, especialmente no mercado internacional. Hoje os principais países consumidores de calçados estão na América (36%) e Ásia (30,6%), sendo que os preços médios mais altos são praticados na Europa (US$ 36,67 por par) e os mais baixos na Ásia e Oceania (US$ 16 e US$ 15,54, respectivamente).
Segundo o Planejamento Estrategico, também foi identificado que os países onde o consumo de calçados vem crescendo com maior força estão divididos entre África e Ásia. O consumo per capita americano segue sendo o maior do mundo (7,9 pares por pessoa), embora estável.
A apresentação foi conduzida pelo coordenador do Projeto, Rafael Aquino, que destacou que o setor tem muito potencial de crescimento. “Avaliando os números dos preços médios praticados no comércio internacional, percebemos que o nosso problema não é preço. Para cumprir o grande desafio, que é desenvolver a cadeia no mercado doméstico e internacional, é preciso maior sinergia e união entre autarquias, associações, centros tecnológicos, universidades e empresas com vistas a atender às demandas do mercado atual em termos de inovação, sustentabilidade e melhor aproveitamento dos recursos disponíveis”, comentou, ressaltando que também é necessária a criação de uma imagem de marca do produto nacional no mercado internacional.
Detalhando o panorama setorial, que apesar de registrar quedas nas vendas internas e externas nos anos recentes demonstra grande potencial de crescimento, Aquino destacou que para criar um ambiente de maior competitividade para a cadeia é preciso unir todos os elos. Conforme o especialista, o Brasil possui associações setoriais de calçados robustas, mas que ainda têm o desafio de engajar um maior número de empresas, criando uma cultura que fomenta a inovação, a cocriação, o desenvolvimento de novos produtos e novos modelos de negócios – especialmente no que diz respeito à distribuição, com a força cada vez maior do omnichannel, entre outros pontos.
Segmentação
O Planejamento trouxe, ainda, um detalhamento de onde estão as principais oportunidades por tipo de material utilizado no calçado. Na América, Europa e Brasil a maior oportunidade é para calçados de couro, enquanto os calçados com preços menores são os preferidos na Ásia e Oceania (sandálias e chinelos). “Nesses países, devemos unir esforços com vista à construção de uma imagem de marca Brasil”, destacou Aquino.
Desafios
O consultor ressaltou que a cadeia possui quase 100 iniciativas de desenvolvimento e que o principal desafio não é criar mais projetos, mas avaliar aqueles que são mais efetivos e relevantes para que o empresariado possa construir seu posicionamento estratégico.
Metas
O Planejamento Estratégico fechou com metas até 2033: impactar 633 empresas com iniciativas; aumentar a produtividade por funcionário em 7,5% nas empresas do complexo; aumentar as exportações entre 10% a 15% ao ano; engajar 200 empresas de calçados, 200 de componentes, 50 de couros e 50 de máquinas nas certificações de sustentabilidade; aumentar o engajamento das empresas nas respostas ao PINTEC (pesquisa de inovação realizada pelo IBGE); e a criação de um escritório de projetos para a cadeia, com braço voltado para gerenciamento de projetos por meio de um conselho consultivo de empresários.
Força
O analista de Comércio Exterior do MDIC, Ricardo Zanatta Bortoli, responsável pela contratação e pelo acompanhamento do Planejamento Estratégico, ressaltou que o trabalho irá aumentar a voz da cadeia junto ao Governo Federal. “A união do segmento é muito importante e demonstra que o setor tem uma base forte, o que pode ajudar na busca de novos pleitos”, destacou.
O Planejamento Estratégico foi iniciado em janeiro e contou com o engajamento das principais entidades setoriais que compõem a cadeia coureiro-calçadista nacional, que além de responderem questionários que culminaram na matriz swot (que reuniu as principais forças, oportunidades, ameaças e fraquezas da cadeia), engajaram associados que responderam a 60 questionários semelhantes.
(*) Com informações da Abicalçados