Programa de Desenvolvimento Agricola ajudará a reduzir déficit no comércio com a Nigéria

0

Da Redação

Brasília –  O lançamento oficial, na semana passada em Abuja (capital da Nigéria) de um ambicioso Programa de Desenvolvimento Agrícola da Nigéria constitui um marco histórico nas relações entre o Brasil e o país mais populoso e dono da maior economia do continente africano e deverá contribuir, em curto e médio prazo, para dar maior equilíbrio ao fluxo comercial entre o Brasil e a Nigéria e para reduzir o elevado superávit acumulado por aquele país no intercâmbio comercial com o Brasil.

Em entrevista exclusiva por telefone ao Comexobrasil.com, o Embaixador Na Nigéria, Ricardo Guerra, aproveitou para corrigir uma informação publicada nesta quarta-feira (23) pelo portal  anunciando que o Brasil e a Nigéria haviam assinado acordo para um megaprojeto no setor agrícola.

De acordo com o Embaixador “não se trata de um acordo envolvendo os governos brasileiro e nigeriano mas sim de um Programa de Desenvolvimento Agrícola, iniciativa que, do lado brasileiro, está nas mãos das empresas nacionais, com financiamentos do Deutsche Bank Brasil e do BNDES. Não se trata de um programa governo a governo”.

O Programa terá investimentos iniciais da ordem de  1,1 bilhão de euros e num primeiro momento envolverá  treinamento e capacitação de mão de obra para manutenção das máquinas e equipamentos agrícolas em um prazo de dez anos. Segundo o Embaixador, “vamos treinar e capacitar nigerianos para manejar e manter essas máquinas. A ideia é dar capacitação e emprego a até 10 mil jovens nigerianos, através da implantação de um pacote tecnológico  100% brasileiro”.

O programa vai permitir, em um primeiro momento, a exportação de 10 mil partes de tratores para serem montados na Nigéria pois o governo nigeriano fez questão de que as máquinas fossem enviadas no sistema CKD (Completely Knock-Down) para a Nigéria e montadas lá, gerando oportunidades de emprego para tabalhadores nigerianos e contribuindo para sua formação profissional. O objetivo é criar empregos locais, para jovens principalmente. O Programa deverá impactar um total de 5 milhões de pessoas, que serão beneficiadas em curto e médio prazos”.

Cadeias de valor

Segundo o Embaixador Ricardo Guerra, o Programa conta com um plano de negócios elaborado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), que prevê a criação de mais de 700 centros de serviços na Nigéria para ajudar pequenos agricultores a prepararem o solo, cultivarem seus produtos e realizarem a colheita. Esses centros vão girar em torno das fábricas que serão instaladas em cada uma das seis regiões administrativas do país.

Esses centros serão especializados de acordo com as cadeias de valor no setor agrícola: frangos, carne bovina e e cordeiro, frutas, laticínios, hortifrutis, tubérculos, óleo de palma, coco, cacau, cereais (soja, milho e arroz) e algodão.

O plano de negócios elaborado pela FGV prevê o desembolso escalonado da verba inicial de 1,1 bihão alocada para a implementação do Programa. A primeira tranche no valor de 120 milhões de euros, deverá ser liberada em poucos dias, em fevereiro ou ao mais tardar, no início do mês de março, a cargo do Deutsche Bank Brasil e seguro pelo Banco Islâmico de Desenvolvimento.

A segunda e terceira tranches, no total de 360 milhões de euros, conforme sublinha o Embaixador Ricardo Guerra, serão financiados pelo BNDES em parceria com uma instituição financeira multilateral e a verba será liberada até meados do ano.

As duas últimas parcelas –quarta e quinta tranches-, no valor de 462 milhões de euros, também serão financiadas pelo BNDS juntamente com um banco multilateral e serão liberadas até meados do próximo ano. Os financiamentos terão garantia soberana do governo da Nigéria e o pagamento será feito em 15 anos, com três de carência. A verba de 1,1 bilhão de euros poderá ser aumentada à medida em que o Programa vá sendo implementado.

Segundo o Embaixador Ricardo Guerra, mesmo antes de começar a ser implantado, o Programa de Desenvolvimento Agricola da Nigéria já desperta o interesse de outros países como a  Costa do Marfim e Zâmbia, cujos governos já procuraram a Embaixada brasileira em Abuja em busca de informações e manifestando o interesse na replicação do Programa em seus países. Apesar disso, o diplomata afirmou que “vamos começar com essa iniciativa apenas na Nigéria, deixando para pensar mais adiante em sua expansão”.

Efeitos no comércio bilateral

A expectativa do Embaixador Ricardo Guerra é de que a implantação do Programa venha a gerar um “efeito colateral” de grande interesse para o Brasil: contribuir para um maior equilibrio no comércio bilateral com o país africano. O diplomata lembra que “em 2013, quando as vendas nigerianas para o Brasil, concentradas em petróleo, nafta para a petroquímica e gás natural, somaram US$ 9,648 bilhões, as exportações brasileiras foram de apenas US$ 876 milhões, gerando um megassaldo da ordem de US$ 8.882 bilhões em favor da Nigéria. Até 2015 a Nigéria figurou entre os 15 maiores parceiros comerciais do Brasil em todo o mundo e entre 2007 e 2014 o Brasil acumulou um déficit de quase US$ 50 bilhões no comércio com os nigerianos”

Outro reflexo positivo do Programa poderá ser a exportação pela Embraer de aviões de uso agrícola, nos quais a Nigéria já manifestou interesse. As conversas preliminares já tiveram início e negócios poderão ser fechados no futuro.

Há pouco mais de sete meses à frente da Embaixada brasileira, o Embaixador Ricardo Guerra se diz perfeitamente adaptado à vida em Abuja, cidade construída nos anos 80 para servir como capital administrativa do país e que hoje conta com uma população de cerca de 4 milhões de habitantes. Segundo ele, “Abuja lembra Brasília com suas avenidas largas, imensas áreas verdes e seu planejamento urbanístico que em vários aspectos se assemelha àquele que foi elaborado para Brasília por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. A vida é tranquila e aqui nos sentimos seguros”.

Segundo o Embaixador, “nossa missão é vender o agronegócio brasileiro para o país mais populoso e com o maior PIB do continente africano. De cada grupo de cinco africanos, um é nigeriano. A Nigéria é um grande mercado em expansão. É verdade que o país enfrenta grandes problemas de infraestrutura, mas tem um potencial muito vasto, assim como todo o  continente africano. É impossível pensar no futuro sem considerar a África como um continente de grandes e diversificadas possibilidades”.

A curta permanência em Abuja já permitiu ao Embaixador Ricardo Guerra ter a plena consciência de que “o Brasil tem grandes condições de competir com os grandes players presentes no país, como os Estados Unidos, China, Alemanha, Japão e muitos outros. Vamos procurar atuar no setor em que somos mais competitivos, o agronegócio. E foi exatamente por sermos competitivos que o governo nigeriano procurou o Brasil para implantar esse que é o maior projeto de desenvolvimento agrícola de toda a África”.

Deixe uma resposta