Brasília – Formadores de opinião de países tão diversos como Portugal, Rússia e Guatemala vieram ao Brasil para conhecer o que está sendo construído em termos de conceito e de suas aplicações práticas em toda a indústria de moda esta semana. Trata-se do Projeto Imagem, uma iniciativa da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e da Associação Brasileira das Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos, (Assintecal), vinculada ao programa By Brasil, Components, Machinery and Chemicals.
O objetivo central é promover a internacionalização da indústria de componentes para calçados, couros e outros setores. Um total de jornalistas, representantes de agências de promoção de exportações e de câmaras de comércio internacionais mergulharam em todo o processo da indústria calçadista e de componentes, cuja vitrine é o Salão InspiraMais, realizado entre os dias 25 e 26 de janeiro em Porto Alegre.
Os resultados não deixam dúvidas quanto ao sucesso das ações empreendidas. Na última edição do InspiraMais, o projeto Comprador Internacional, que também é desenvolvido dentro do programa setorial By Brasil e que ocorre em paralelo ao Projeto Imagem, gerou cerca de US$ 7,5 milhões em negócios fechados in loco e já alinhavados para os próximos meses.
Além disso, as vendas internacionais do setor têm crescido de nos últimos anos. Em 2021, a exportação de componentes para calçados cresceu 22% em relação a 2020, chegando a US$ 410, 3 milhões. Os quatro principais mercados foram China, Argentina, México e Colômbia. No mesmo período, o volume de exportações de calçados também cresceu 32%, saltando de 93,8 milhões para 123,6 milhões de pares vendidos. A receita com as vendas internacionais da indústria calçadista também cresceu 36%, de US$ 658,3 milhões para US$ 900,3 milhões.
Segundo o gestor de Mercado Internacional da Assintecal, Luiz Ribas Júnior, o objetivo do Projeto Imagem é comunicar que temos desenvolvido todas as soluções que a indústria calçadista precisa, desde a pesquisa, que leva à conceituação, à criação das tendências de moda. E também mostrar que todo esse embasamento teórico se traduz, na prática, por meio da criação de novos produtos, sejam componentes ou calçados, que seguem as últimas tendências do mercado, buscando processos cada vez mais sustentáveis em toda a cadeia de produção. E o Inspira Mais é a vitrine em que se expõe tudo isso, para os representantes da indústria e para o público interessado.
A jornalista Russa Yuna Zavelskaya, integrante do grupo, elogiou a iniciativa. “Estão conseguindo fazer com que as empresas inovem e se modernizem, que ousem, e isso é muito bom”, disse. É a terceira vez que a jornalista vem ao Brasil para o InspiraMais, sendo que as outras duas foram viagens à São Paulo, onde o Salão era realizado anteriormente. Zavelskaya divulga informações a compradores e distribuidores interessados no couro produzido no Brasil.
Novo olhar
É um desafio construir uma imagem da marca Brasil que fuja a estereótipos no tão concorrido mercado internacional. “A moda brasileira é muito conhecida como sendo uma moda de verão, sabe-se pouco dos aspectos de sustentabilidade e de todo o trabalho que alguns setores têm feito nesta indústria.
A Assintecal tem trabalhado muito bem nesse sentido e, por isso, tem conseguido resultados positivos”, conta a diretora da Global Fashion Export, que tem sede na Espanha, Maite Ruiz-Atela, que presta consultoria internacional em moda, além de publicar uma revista e conteúdos sobre o tema em sua página de internet.
Criar confiança e uma boa imagem com os formadores de opinião da América do Norte e Central, Europa e Ásia demanda uma relação mais próxima com toda a cadeia produtiva. Por isso, além da visita ao InspiraMais, o projeto prevê outras ações, para proporcionar uma verdadeira imersão.
Nesta edição, por exemplo, os jornalistas tiveram uma atenção especial do estilista e pesquisador de moda Walter Rodrigues. Ele chefia a equipe encarregada de traduzir toda inquietação e criatividade em um conceito que irá nortear as ações do mercado pelos próximos 18 meses. Por isso, em cada edição do InspiraMais é lançado um novo Preview, cujas diretrizes irão guiar a produção de todo o setor.
A sustentabilidade é um tema e uma prática chave em todo o processo. Não só como um dos principais questionamentos da equipe de pesquisa que, inclusive, fizeram com que o Preview se chamasse Terra, mas também para a própria sobrevivência das empresas, que, a cada dia, precisam adotar processos mais sustentáveis para se manter no mercado.
Tendências
Durante encontro com os formadores de opinião internacionais, Rodrigues explicou como se dá o processo de pesquisa para chegar ao conceito que será trabalhado na coleção do ano, quais são os temas e questionamentos que levam em consideração, e qual é o caminho feito até chegarem à versão final do Preview.
Segundo ele, o núcleo de pesquisa entendeu que, depois da pandemia de Covid-19, entre 2020 e 2021, o que mais precisamos para seguir adiante é da própria Terra. Desta ponderação e da reflexão sobre a necessidade de retornarmos ao básico, ao natural, suas técnicas e processos, nasceu o Preview Terra, que, como não poderia deixar de ser, tem a sustentabilidade, na sua dimensão ambiental, de governança e social, como uma prática chave.
A pesquisa considerou como conceitos fundamentais inseridos no guarda-chuva da sustentabilidade o biomimetismo e a simbiose. O biomimetismo fala sobre a necessidade de se alinhar com a própria natureza e de compreendê-la como um sistema operacional e produtivo.
Segundo a bióloga e consultora de inovação Janine Benyus, “quando olhamos para o que é verdadeiramente sustentável, o único modelo real que funcionou por longos períodos de tempo é o mundo natural”. Com base nessa reflexão, diversas marcas tem desenvolvido formas com base em processos naturais, como a proliferação de determinados tipos de fungos, além de processos naturais de tingimento, por exemplo. Inspirada no conceito de simbiose, que significa vida em comum, onde dois organismos convivem harmoniosamente sendo beneficiados por essa ação, a equipe de pesquisa conduziu suas narrativas de modo a concluir que, para seguirmos vivendo em comum, é preciso integrar o antigo e o inovador, o natural e o tecnológico, para se fortalecerem na criação e também para reciclagem de materiais.
Também com base nestes conceitos, nesta 25ª edição do InspiraMais, o Preview Terra trouxe as cores branco brilhante, o palha dourado e roxo safira como estrelas.
Chão de fábrica
Um ponto forte do Projeto é levar os participantes para conhecer mais a fundo a indústria brasileira. Nessa edição, eles puderam visitar duas indústrias de grande porte e envergadura: a Arezzo, maior marca de varejo de calçados femininos da América Latina, e a fábrica de embalagens BoxPrint. Durante visita à da Arezzo, que tem marcas de renome internacional, como Alexandre Birmann, e no mercado interno, como Reserva, Schultz e Ana Capri, por exemplo, os participantes se surpreenderam com a complexidade e profissionalismo de todos os processos.
Para se ter uma ideia, a empresa tem o resumo, em um painel, da movimentação de estoque e das vendas de todas as franquias da marca no Brasil. Além disso, contam com um hub de inovação que pensa de forma conjunta a divulgação, as soluções de tecnologia, entre outros temas.
O representante da Câmara de Comércio da Guatemala, Edwin Ariel Reyes Donis, se surpreendeu com a visita. “Para nós, conhecer uma empresa tão estruturada e organizada, de forma tão ampla e tão integrada é um aprendizado. Vamos levar essa experiência de volta para nosso país e compartilhar com nossos industriais. Será um exemplo para seguirem”, conta ele.
De acordo com Luiz Ribas, esse é um ponto importante para o Projeto Imagem: “quando pensamos em países que ainda não têm um corpo técnico que conhece e pensa a moda como nós temos desenvolvido, conectada com o que há de mais avançado em todo o mundo, essa experiência é de transferência e geração de conhecimento. Eles saem daqui encantados porque querem que as indústrias dos seus países passem a aplicar esses mesmos princípios”.
ESG
A BoxPrint é um exemplo de como a adoção dos princípios ESG (meio ambiente, social e governança) impulsionam os negócios. A fábrica é uma das maiores produtoras de embalagens em todo o Brasil, atendendo a cadeia calçadista, de cosméticos e fármacos, entre outras, e já exporta para cinco países.
Desde sua criação a empresa adota algumas das ações que hoje norteiam as certificações nacionais e internacionais mais importantes, como a norte-americana “B”. De acordo com o superintendente comercial Eduardo Petry, após conseguirem esse “selo” já puderam fechar negócio com outras empresas que também alcançaram o mesmo patamar. E vai além: “a Boxprint pegou para si a responsabilidade de passar para seus próprios fornecedores a necessidade de adotarem padrões sustentáveis em todos os processos da produção e estamos trabalhando nesse sentido. Cerca de 97% de nossos fornecedores usam papel com certificações ambientais e estamos conscientizando os que ainda não têm sobre a importância de adquiri-las, mesmo que saibamos que sua produção de papel utiliza fontes renováveis”, disse.
Além disso, a empresa chegou à categoria máxima, diamante, da certificação Origem Sustentável. Criada em conjunto pela Assintecal e pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), e é a única em todo o mundo voltada exclusivamente para a cadeia calçadista.
Segundo a gerente de Indústria e Serviços da ApexBrasil, Maria Paula Velloso, essas ações geram mais confiança na indústria nacional o que se reflete na expansão das exportações. “Com certeza temos resultados visíveis de todo o trabalho que tem sido desenvolvido pelo programa setorial By Brasil, em parceria com a Assintecal, e suas ações. O Projeto Imagem, que já ocorre há 12 anos, não só expande os horizontes para a indústria brasileira, como também cria confiança no mercado internacional de que a nossa cadeia calçadista é sinônimo de qualidade, com produtos inovadores e práticas sustentáveis”.
(*) Com informações da ApexBrasil